Em uma operação de grande escala realizada no Complexo do Alemão, a polícia e o Ministério Público do Rio de Janeiro desmantelaram uma das maiores fontes de financiamento do Comando Vermelho, a principal facção criminosa do estado. A operação, que envolveu forças do Grupo de Atuação Especializada no Combate ao Crime Organizado (Gaeco/MPRJ), bem como as polícias Civil e Militar, teve como alvo a chamada “Caixinha do CV”, um fundo financeiro responsável por sustentar desde os pequenos pontos de tráfico até as vidas de luxo dos líderes da facção.
O Funcionamento da ‘Caixinha do CV’: De Franquias a Mansões
Segundo as investigações, a “Caixinha do CV” funciona de maneira similar a um modelo de franquias. Os chefes dos pontos de venda de drogas, conhecidos como “traficantes locais”, pagam uma mensalidade à facção para poder operar nas comunidades dominadas pelo Comando Vermelho. Em troca, esses traficantes recebem apoio logístico, fornecedores de entorpecentes, e até o uso da marca “CV”, simbolizando sua associação com a facção.
Esse sistema proporciona uma estrutura complexa que não apenas sustenta as bocas de fumo, mas também alimenta o luxo das altas lideranças do tráfico. De acordo com o Gaeco, os recursos arrecadados são usados para financiar a ostentação de chefões do crime, que constroem mansões em áreas dominadas pelo tráfico, simbolizando o poder e a riqueza gerados pelo controle do narcotráfico.
A outra parte do dinheiro arrecadado, no entanto, tem destinos mais obscuros. Parte dos recursos é destinada à criação de um fundo financeiro da facção, que tem quatro funções principais: a compra de armas, munições e drogas; a concessão de empréstimos e investimentos em novos territórios ou recomposição financeira; o pagamento de pensões para membros da facção que estão presos; e, por fim, o pagamento de propinas a agentes públicos, garantindo que a facção continue sua operação sem obstáculos legais.
O Lavar Dinheiro e a Estrutura Complexa de Movimentação
A operação de combate ao tráfico também revelou como o dinheiro da “Caixinha do CV” é movimentado de maneira complexa, com o intuito de dificultar o rastreamento e a identificação dos responsáveis. As transações são realizadas com saques e depósitos fracionados, abaixo de R$ 10 mil, e muitas vezes em dinheiro vivo. Além disso, as investigações apontaram para o uso de “contas de passagem”, que servem para transferir valores entre diferentes contas e dificultar a identificação da origem e destino do dinheiro.
Esse sistema financeiro subterrâneo garante que os lucros do tráfico de drogas sejam lavados, mantendo os envolvidos protegidos e os rastros financeiros escondidos. A operação revelou ainda que a Caixinha era administrada, até 2019, por Carlos Henrique dos Santos, conhecido como Carlinhos Cocaína, um dos membros da cúpula do Comando Vermelho e responsável pelo tráfico na Cidade de Deus. O traficante, já falecido, operava de forma discreta e com alta capacidade de movimentação de recursos, o que contribuiu para a longevidade e expansão da facção criminosa.
A “Caixinha do CV” exemplifica a sofisticada rede financeira criada pelas facções criminosas para não apenas sustentar suas operações ilícitas, mas também para garantir o poder político e econômico, mantendo um ciclo vicioso que envolve corrupção, violência e lavagem de dinheiro. Combater esse tipo de estrutura exige mais do que ações isoladas; é necessário um esforço conjunto das autoridades para desmantelar as redes financeiras que alimentam o tráfico e proteger a sociedade do avanço do crime organizado.
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