Nos últimos anos, a forma como o brasileiro enxerga o trabalho tem mudado consideravelmente. Com a pandemia acelerando a adoção do home office, muitos profissionais passaram a considerar a possibilidade de trabalhar para empresas internacionais sem precisar sair do país. Essa nova tendência, apontada como uma “fuga de cérebros” em um novo formato, reflete o crescente interesse por empregos remotos, com salários em moeda forte e flexibilidade de horários.
A Ascensão do Trabalho Remoto para Empresas Estrangeiras
Segundo o estudo anual “Futuro do Trabalho: onde estamos e para onde vamos”, realizado pela plataforma Futuros Possíveis em parceria com o Grupo Boticário, 78% dos profissionais brasileiros demonstram interesse em trabalhar remotamente para empresas de fora. Isso representa um aumento significativo de 8 pontos percentuais em relação ao ano anterior, o que sinaliza uma tendência crescente. A pesquisa também aponta que a busca por empregos no exterior aumentou consideravelmente, com a opção de trabalhar de casa sendo altamente atrativa, especialmente em tempos de retomada do trabalho presencial nas empresas brasileiras.
Os Fatores que Impulsionam essa Tendência
Entre os principais fatores que impulsionam essa busca por oportunidades fora do Brasil estão a promessa de uma melhor remuneração, principalmente com o pagamento em dólares, euros ou libras, e a flexibilidade oferecida pelo home office. Para Marcelo Gripa, cofundador e diretor de operações da Futuros Possíveis, o desejo de ganhar mais e o incômodo com o retorno ao modelo presencial nas empresas locais são questões decisivas para essa escolha. “A volta ao trabalho presencial é questionada, e, neste contexto, o desejo de trabalhar remotamente para empresas internacionais ganha força”, afirma.
Remuneração e Áreas de Atuação
A pesquisa revela que os profissionais brasileiros que trabalham para empresas estrangeiras têm uma remuneração média mensal de cerca de US$ 2.600, o que equivale a aproximadamente R$ 13.200, considerando a cotação atual do dólar. As áreas mais procuradas para trabalho remoto incluem tecnologia, especialmente desenvolvimento de softwares e aplicativos, mas também design, marketing e comunicação têm se destacado.
O Desafio do Idioma
Embora o interesse seja grande, a barreira linguística se apresenta como o maior obstáculo para muitos brasileiros. A falta de fluência em idiomas estrangeiros, principalmente o inglês, é vista como um empecilho para aqueles que buscam uma transição para o mercado de trabalho internacional. Além disso, muitas pessoas acima de 50 anos não sabem por onde começar para ser encontradas por recrutadores internacionais, o que limita suas possibilidades.
Para Angelica Mari, CEO da Futuros Possíveis, a crescente busca por empregos remotos no exterior reflete uma mudança na mentalidade dos profissionais brasileiros. “É interessante ver esse movimento de maior conectividade global, especialmente entre mulheres e indivíduos mais maduros, que veem no trabalho remoto uma chance de expandir suas oportunidades sem sair de casa”, comenta.
Desafios Regionais: O Norte e Nordeste
A pesquisa também destaca a disparidade regional no Brasil. No Norte, apenas 67% dos profissionais consideram a opção de trabalhar remotamente, o número é 10 pontos percentuais abaixo da média nacional. Gripa aponta que a falta de conectividade à internet de qualidade em algumas dessas regiões pode ser uma barreira significativa. O estudo do NIC.br revelou que as regiões Norte e Nordeste enfrentam dificuldades com infraestrutura de internet, o que torna o trabalho remoto um desafio ainda maior.
A Busca por Oportunidades Fora do Brasil
Quando questionados sobre a possibilidade de deixar o Brasil para trabalhar em outros países, os dados indicam que homens estão mais inclinados a se mudar do que mulheres (55% contra 52%). No entanto, houve um aumento de 7 pontos percentuais entre o público feminino em comparação com o ano anterior. Além disso, jovens entre 16 e 29 anos são os mais inclinados a buscar oportunidades fora do Brasil (63%), seguidos por pessoas da classe C (58%) e pessoas negras (54%).
O Caminho para a Globalização do Trabalho Brasileiro
Essa tendência de trabalhar remotamente para empresas internacionais surge como uma resposta à escassez de oportunidades no mercado de trabalho local e à busca por uma maior qualidade de vida e oportunidades no exterior. No entanto, para que essa mudança seja viável para um número maior de brasileiros, é necessário um investimento em capacitação, especialmente em idiomas, e um suporte adequado para preparar os profissionais para competir no mercado global.
Mari observa que o trabalho remoto pode se tornar uma solução para muitos brasileiros, mas isso depende da eliminação de barreiras como a falta de preparo linguístico e da promoção de oportunidades de qualificação. “É fundamental que haja iniciativas de capacitação para garantir que os brasileiros possam competir globalmente, garantindo um mercado de trabalho mais justo e acessível para todos”, conclui.
A nova fuga de cérebros, agora em formato de trabalho remoto, reflete as mudanças no cenário global de trabalho e as novas possibilidades oferecidas pela conectividade. No entanto, para que o Brasil aproveite de fato essas oportunidades, é preciso investir em educação, melhorar a infraestrutura de internet e fornecer o suporte necessário para que os profissionais possam se inserir com sucesso no mercado de trabalho internacional.
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