O ex-presidente da Coreia do Sul, Yoon Suk Yeol, afastado de suas funções após um impeachment no início de dezembro, está no centro de uma investigação que expõe as graves consequências de seu decreto de lei marcial. Um relatório do Ministério Público, consultado pela AFP, revelou que Yoon autorizou os militares a usarem força letal para garantir a imposição da lei marcial, incluindo ordens diretas para invadir o Parlamento.
A decisão de Yoon, baseada na justificativa de combater supostos “elementos pró-Coreia do Norte” no governo, gerou protestos intensos da população e dos parlamentares. Os acontecimentos que seguiram transformaram-se em um dos episódios mais sombrios da política recente sul-coreana, com implicações severas para a democracia do país.
A tentativa de imposição da lei marcial e a resistência no Parlamento
Na noite de 3 de dezembro, Yoon Suk Yeol decretou a lei marcial e mobilizou tropas para cercar o Parlamento. A intenção, segundo o relatório, era impedir qualquer tentativa legislativa de derrubar o decreto. No entanto, em uma sessão emergencial realizada naquela madrugada, os parlamentares, apoiados por manifestantes, conseguiram revogar a lei marcial.
De acordo com o Ministério Público, Yoon teria instruído o comandante Lee Jin-woo a abrir fogo se necessário para garantir que as tropas entrassem no Parlamento. “Arrombe a porta e tire-os de lá, mesmo que seja atirando neles”, teria dito o ex-presidente. A ordem direta para o uso de força letal evidenciou o nível extremo de autoritarismo adotado por Yoon em sua tentativa de controle.
Mesmo diante da presença militar, os parlamentares, com apoio popular, romperam o cerco e derrubaram a medida autoritária. O episódio marcou uma vitória simbólica para a democracia sul-coreana, mas também destacou os riscos que as instituições enfrentam em cenários de crise política.
Yoon Suk Yeol enfrenta investigações e acusações graves
Após ser afastado do cargo por votação parlamentar, Yoon enfrenta acusações criminais de insurreição, com penas que podem variar de prisão perpétua à pena de morte. O Gabinete de Investigação da Corrupção convocou o ex-presidente três vezes para interrogatórios, mas ele se recusou a comparecer, desafiando o sistema legal sul-coreano.
O relatório também detalha ordens dadas ao general Kwak Jong-keun, chefe do Comando de Contra-Espionagem de Defesa, para forçar a entrada no Parlamento antes que houvesse quórum suficiente para suspender a lei marcial. Essas ações, descritas como intransigentes e arbitrárias, consolidam a gravidade das acusações contra Yoon.
Seu advogado, no entanto, contestou as conclusões do Ministério Público, classificando o relatório como “unilateral” e alheio ao bom senso. Apesar disso, a pressão pública e institucional cresce, com a Corte Constitucional analisando a validade de sua destituição, o que pode levar até seis meses.
O impacto na democracia sul-coreana
O caso de Yoon Suk Yeol expõe os desafios enfrentados por democracias consolidadas diante de líderes que recorrem ao autoritarismo em momentos de instabilidade. A decisão de decretar lei marcial e ordenar ações violentas contra instituições legislativas é um lembrete sombrio de que as ameaças ao Estado de Direito podem surgir de dentro do próprio governo.
A resistência parlamentar e popular que resultou na derrubada da lei marcial reforça a resiliência das instituições democráticas sul-coreanas. No entanto, a crise deixa um legado de polarização e desconfiança política, ao mesmo tempo em que destaca a necessidade de mecanismos mais fortes para prevenir abusos de poder no futuro.
Enquanto o país aguarda a decisão da Corte Constitucional, a Coreia do Sul enfrenta um momento de reflexão sobre a importância da preservação de suas liberdades civis e da vigilância contra qualquer tentativa de erosão democrática.
Quer saber tudo
o que está acontecendo?
Receba todas as notícias do Portal de Notícias no seu WhatsApp.
Entre em nosso grupo e fique bem informado.
Deixe o Seu Comentário