A guerra civil síria, um dos conflitos mais prolongados e devastadores do século XXI, voltou a atrair atenção internacional após um período de relativa calma. A ofensiva mais recente das forças rebeldes, lideradas pelo Hayat Tahrir al-Sham — uma organização que remonta às raízes da Al Qaeda —, marcou a retomada de combates intensos na segunda maior cidade da Síria, Aleppo. O presidente sírio, Bashar al-Assad, cujo regime já enfrenta desafios internos e externos, agora enfrenta a crescente ameaça de um colapso em suas defesas.
O atual cenário é marcado pela complexidade geopolítica que envolve potências regionais e globais. A Rússia, um aliado fundamental de Assad, vê sua atenção dividida devido ao conflito em território ucraniano, enquanto o Irã, por sua vez, lida com as retaliações de Israel em razão de seu apoio a grupos como o Hamas e o Hezbollah. Este cenário de prioridades conflitantes abriu uma janela de oportunidade para que os rebeldes e seus aliados aproveitassem a situação e tentassem expandir suas zonas de controle.
A Frágil Aliança e os Movimentos Estratégicos
A recente ofensiva do Hayat Tahrir al-Sham foi a resposta a um período em que Assad, com o auxílio da aviação russa, buscava consolidar sua autoridade e retomar o controle de regiões estratégicas. Contudo, o cenário atual revela que os aliados de Assad, em especial Rússia e Irã, enfrentam limitações de recursos e interesses divergentes, o que enfraquece o cerco contra os insurgentes. Para especialistas, a escolha de Aleppo como alvo reflete uma tentativa dos rebeldes de reconquistar uma posição geopolítica que altere o equilíbrio de forças.
Guilherme Casarões, cientista político da Fundação Getúlio Vargas, ressalta que o ataque ocorreu em um momento crítico: “Aqueles que eram os três principais aliados do governo Assad, Hezbollah, Irã e Rússia, estão meio que fora desse envolvimento direto com o conflito, o que abriu uma oportunidade para que os rebeldes tentassem retomar certas posições estratégicas dentro do país.”
Conflito e Implicações Regionais
O impacto desta escalada vai além das fronteiras sírias. O professor de relações internacionais adverte que a instabilidade em Aleppo e a possível perda de território por parte do regime de Assad podem ter efeitos dominó que afetem o Oriente Médio como um todo. A falta de controle sobre regiões chave pode criar vácuos de poder, potencialmente intensificando conflitos em áreas vizinhas, como o enfrentamento entre Israel e o Hezbollah no Líbano, e entre Israel e Gaza.
Em resposta a essa complexidade, a comunidade internacional, representada por organismos como a ONU, continua a lutar para encontrar um caminho político que garanta um cessar-fogo e promova negociações que possam, de fato, estabelecer a paz na região. O Departamento de Estado dos EUA, por exemplo, exortou que nações influentes, incluindo Rússia e Irã, se engajem em um processo de diálogo.
No entanto, à medida que o regime de Assad se vê forçado a depender de apoio aéreo russo, sua posição se torna ainda mais vulnerável, minando sua capacidade de manter uma coesão política e territorial que, por sua vez, ameaça a segurança e estabilidade de um Oriente Médio já marcado por tensões e disputas de poder.
Com a ameaça de mais desestabilização à vista, é crucial que líderes regionais e potências globais considerem um comprometimento renovado com soluções práticas e duradouras, evitando uma escalada ainda mais catastrófica para a Síria e seus vizinhos.
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