Militares e agentes de inteligência de Israel descobriram evidências que revelam rede de túneis construída pelo grupo Hamas. Localizados na Faixa de Gaza, no subsolo do enclave palestino, as escavações possuem alcance e profundidade gigantescas.
Para se ter ideia, um dos túneis pelo Hamas possui largura suficiente para que um alto funcionário do Hamas conduzisse um carro dentro dele. Outro chega a medir quase três campos de futebol e fica abaixo de um hospital. Também foi encontrado, em uma residência de um comandante sênior do Hamas, uma escada em espiral que levava a um túnel com mais de sete andares de profundidade.
Os militares israelenses agora afirmam que há uma quantidade significativa de túneis adicionais sob Gaza.
Um verdadeiro labirinto
São, aproximadamente, 720km e cerca de 5.700 poços – um número que assusta quando tratamos de um território que, em seu ponto mais longo, tem apenas 40 km.
Não foi possível confirmar os números de forma independente, e as autoridades israelenses fornecem diferentes estimativas sobre o crescimento dos túneis, com base em informações diversas. No entanto, fiou claro que o grupo terrorista Hamas está fazendo grandes esforços para tornar a região militarizada.
Em uma reunião realizada em janeiro de 2023, um alto oficial militar israelense afirmou que os túneis não representariam um fator relevante em eventuais futuros conflitos com o Hamas, devido à robustez militar de Israel. Essa perspectiva foi obtida a partir da análise de uma transcrição da discussão pelo New York Times.
Para as forças armadas israelenses, os túneis representam um desafio subterrâneo e constituem o cerne da capacidade de sobrevivência do Hamas. Atualmente, todos os objetivos estratégicos de Israel em Gaza estão vinculados à eliminação desses túneis.
Daphné Richemond-Barak, especialista em guerra de túneis da Universidade Reichman, em Israel afirmou que eles estão conectados a todas as partes das missões militares. “Se você quiser destruir a liderança e o arsenal do Hamas, terá que destruir os túneis”, disse.
A estratégia do Hamas, em investir pesadamente nos túneis, se deve ao fato de não possuirem recursos ou números para combater os militares israelenses em uma guerra “tradicional”. O grupo usa os túneis como bases militares e arsenais, e conta com eles para mover suas forças sem ser detectados.
“O Hamas usou o tempo e os recursos nos últimos 15 anos para transformar Gaza em uma fortaleza”, disse Aaron Greenstone, ex-oficial da C.I.A.
Documentos demonstram que o grupo terrorista investiu até US$ 1 milhão para as portas dos túneis, oficinas subterrâneas e outras despesas em Khan Younis.
Recentemente, autoridades da inteligência israelense estimaram a existência de aproximadamente 160 quilômetros de túneis diretamente abaixo de Khan Younis, a maior cidade no sul de Gaza, onde as forças israelenses estão atualmente engajadas em intensos combates. Yahya Sinwar, líder militar do Hamas em Gaza, possuía uma residência em Khan Younis.
Além disso, um relatório de 2015 indicou que o Hamas despendeu mais de US$ 3 milhões na construção de túneis em toda a Faixa de Gaza, incluindo muitos que foram construídos sob a infraestrutura civil e locais sensíveis, como escolas e hospitais, conforme relatado pelas forças militares israelenses.
Tipos de túneis
Os militares israelenses relataram a descoberta de dois tipos de túneis: aqueles utilizados por comandantes e outros pelos agentes do Hamas. Os túneis destinados aos comandantes são mais profundos e “confortáveis”, permitindo estadias prolongadas e até mesmo o uso de telhas de cerâmica. Já os outros túneis são mais simples e geralmente mais superficiais.
Foi feita análise dos computadores utilizados pelos agentes do Hamas, encarregados da construção dos túneis para identificar as passagens subterrâneas e, além disso, documentos capturados durante a guerra estão se revelando cruciais, incluindo listas das famílias que abrigaram as entradas dos túneis em suas residências.
Táticas de guerra
Num incidente específico, soldados israelenses encontraram um mapa de túneis em Beit Hanoun, cidade ao norte de Gaza, utilizando-o para localizar e destruir túneis. Apesar dessa inteligência em campo, os confrontos em torno dos túneis em Gaza têm sido desgastantes. As forças israelenses relatam cerca de 190 soldados mortos e aproximadamente 240 gravemente feridos desde o início da campanha terrestre. No entanto, o número de mortos e feridos diretamente relacionados à guerra dos túneis não foi divulgado.
Um soldado, sob condição de anonimato por razões de segurança, supervisionou a destruição de cerca de 50 túneis em Beit Hanoun, todos armadilhados. Esse oficial dos engenheiros de combate revelou que sua unidade encontrou bombas nas paredes e um dispositivo explosivo maciço, preparado para ativação remota. O dispositivo, fabricado com um número de série identificável, teria causado mortes tanto dentro quanto fora do túnel, se detonado.
Em novembro, o Hamas divulgou um vídeo demonstrando como atraiu cinco soldados israelenses para a entrada de um túnel em Beit Hanoun e, em seguida, utilizou uma bomba na beira da estrada para atacar e matar os soldados.
Daphné Richemond-Barak observou que o Hamas adotou essa tática de rebeldes sírios, os quais, em 2014, atacaram um túnel em Aleppo, causando dezenas de mortes entre soldados governamentais.
Armamento subterrâneo
Em 8 de janeiro, soldados israelenses conduziram jornalistas para visualizar três poços de túneis na região central de Gaza. Um estava situado em um edifício agrícola nos arredores de Bureij, outro dentro de uma siderúrgica civil na periferia de Maghazi, e um terceiro dentro de um galpão próximo à siderúrgica.
O poço na siderúrgica era o mais elaborado, descendo cerca de 30 metros e equipado com algum tipo de elevador. Os soldados afirmaram que era usado para transportar peças de munição moldadas na siderúrgica. Próximo a ele, havia um balde contendo projéteis ou cabeças de foguetes baseados em um modelo de morteiro de 20 mm fabricado nos EUA, com a inscrição “projétil de morteiro de 20 mm; Lote 1-2008”.
Apesar de não permitirem a entrada dos jornalistas no poço devido ao risco de explosões, os soldados indicaram que o Hamas transportaria as peças de munição para o túnel, a fim de levá-las a outra parte da rede, onde seriam equipadas com explosivos.
O túnel conduzia a um galpão próximo, construído com ferro corrugado, onde os jornalistas avistaram 10 foguetes grandes, com cerca de três metros de comprimento e pintados de verde-oliva. Os foguetes estavam armazenados em longas gaiolas oblongas, possivelmente utilizadas para transporte.
Segundo os soldados, os foguetes tinham um alcance de aproximadamente 60 milhas. Havia um poço no piso do galpão, mas não estava claro seu destino ou profundidade, parecendo menos profundo que o primeiro.
O logotipo das brigadas Qassam, a ala militar do Hamas, estava fixado em uma parede.
Desativar os túneis é uma tarefa desafiadora, afirmou a autoridade, demandando mapeamento, verificação de reféns e não apenas danificação, mas torná-los irreparáveis. Tentativas recentes de destruir os túneis por inundação com água do mar foram mal sucedidas. A autoridade estimou que desativar completamente o sistema de túneis poderia levar anos.
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