Há exatos 80 anos, em 2 de julho de 1944, o governo brasileiro enviou seus primeiros soldados à Itália para lutar contra o nazifascismo na Segunda Guerra Mundial. Essa missão histórica, realizada pela Força Expedicionária Brasileira (FEB), ainda carece de reconhecimento adequado pela sociedade. Historiadores e familiares dos veteranos, conhecidos como pracinhas, buscam resgatar e valorizar seus feitos heroicos.
A Missão Heroica e os Desafios Enfrentados
O Brasil foi o único país da América do Sul a enviar soldados para o campo de batalha europeu, enquanto o México contribuiu com algumas tropas aéreas. Dos cerca de 25 mil pracinhas que partiram para a Itália, aproximadamente 90% eram civis da reserva, convocados por telegrama. Esses homens deixaram suas vidas comuns e empregos para enfrentar um inimigo implacável, sem a certeza de retorno. Tragicamente, 451 deles não voltaram, sucumbindo nos combates.
A decisão de criar a FEB e enviar tropas ao exterior foi tomada após o Brasil declarar guerra à Alemanha em agosto de 1942, principalmente em resposta aos ataques alemães a navios brasileiros na costa nordestina. No entanto, foi somente em janeiro de 1943, após um encontro entre o presidente Getúlio Vargas e o presidente americano Franklin Roosevelt, que o Brasil selou sua participação ativa no conflito.
Os pracinhas enfrentaram condições adversas na Itália, incluindo o inverno rigoroso e o terreno montanhoso. Combateram principalmente contra o experiente Exército alemão. Apesar das dificuldades, tiveram vitórias significativas, como a tomada do Monte Castello em fevereiro de 1945 e a rendição de quase 20 mil soldados alemães na batalha de Fornovo em abril do mesmo ano. Essas conquistas são dignas de serem relembradas, pois os pracinhas tinham plena consciência de que lutavam por uma causa justa, combatendo um regime opressor.
O Legado dos Pracinhas e a Busca por Reconhecimento
Infelizmente, ao retornarem ao Brasil, os pracinhas não receberam o devido reconhecimento e assistência. Embora tenham sido recebidos com festa no porto do Rio de Janeiro, muitos enfrentaram dificuldades na reintegração à vida civil. Os civis que lutaram não tiveram a mesma assistência médica que os militares, e o apoio financeiro só veio muitos anos depois, quando muitos já estavam aposentados e não podiam acumular benefícios.
Além disso, os horrores da guerra deixaram marcas profundas. Muitos pracinhas não conseguiram se adaptar à vida normal, enfrentando problemas como violência, alcoolismo e até suicídio. Para evitar desentendimentos, a maioria preferiu guardar para si as lembranças dos combates, o que contribuiu para que suas conquistas fossem esquecidas.
Outro fator que contribuiu para a desvalorização dos feitos da FEB foi o golpe militar de 1964. Segundo o historiador Francisco Ferraz, houve uma “má vontade” entre setores acadêmicos de não enaltecer os militares da FEB, especialmente porque alguns deles participaram do movimento que levou à ditadura. Essa atitude impediu que o reconhecimento dos pracinhas fosse devidamente promovido.
Entre aqueles que lutam para resgatar a imagem dos expedicionários está João Barone, baterista da banda Paralamas do Sucesso e filho de um dos pracinhas. Barone escreveu o livro “Soldado Silva” para contar a história de seu pai na campanha italiana e tem sugerido homenagens públicas, como a instalação de uma placa no Porto Maravilha, no Rio de Janeiro, para marcar os 80 anos da partida dos pracinhas. Esta placa, confeccionada em bronze pelo artista plástico Mário Pitanguy, será exposta ao público nesta terça-feira.
O legado dos pracinhas da FEB é um capítulo crucial na história do Brasil que merece ser amplamente reconhecido e valorizado. Esses homens deixaram tudo para trás para combater um inimigo brutal em nome da liberdade e da justiça. É essencial que a sociedade brasileira lembre e celebre seus feitos heroicos, aprendendo com as lições do passado para que horrores como os do nazifascismo nunca mais se repitam. A luta por reconhecimento continua, e é um dever de todos honrar a memória daqueles que sacrificaram tanto pelo bem de todos.
Quer saber tudo
o que está acontecendo?
Receba todas as notícias do Portal de Notícias no seu WhatsApp.
Entre em nosso grupo e fique bem informado.
Deixe o Seu Comentário