Uma grande operação policial no Complexo do Alemão, Zona Norte do Rio de Janeiro, marcou esta quarta-feira (15) com tiroteios intensos, prisões importantes e novas descobertas sobre o funcionamento financeiro do Comando Vermelho (CV). A ação, que mobilizou as polícias Civil e Militar, além do Ministério Público, teve como foco desarticular a “Caixinha do CV” — o núcleo financeiro que sustenta as atividades criminosas da facção.
Confronto violento e caveirão sabotado
Logo no início da manhã, agentes do Bope (Batalhão de Operações Especiais) foram recebidos com disparos ao entrar no complexo. Durante o confronto, um policial do Bope foi baleado no ombro e no antebraço, mas passa por cirurgia e está fora de perigo. Três suspeitos foram mortos no embate.
Em uma tentativa desesperada de bloquear os acessos às comunidades, traficantes espalharam óleo nas ruas para dificultar a movimentação dos blindados policiais. Um dos caveirões chegou a derrapar, atingindo dois carros e uma motocicleta estacionados. A polícia investiga se houve vazamento de informações sobre a operação, o que pode ter permitido aos criminosos preparar essas barricadas.
Desmantelando o esquema financeiro
O objetivo principal da operação foi cumprir 14 mandados de prisão contra integrantes do “núcleo duro” do CV, responsáveis pela lavagem de dinheiro e gestão financeira da facção. Até o momento, oito suspeitos foram presos, incluindo familiares de traficantes que agiam como intermediários no esquema.
De acordo com o delegado Gustavo Ribeiro, do 1º Departamento de Polícia de Área da Capital, os investigados recebiam mesadas do CV para garantir o sustento de suas famílias enquanto os criminosos estavam presos:
“Era como se fosse um benefício previdenciário ilegal. O indivíduo trabalhava para a facção, era preso, e a família continuava recebendo dinheiro”, explicou o delegado.
Mais de R$ 21 milhões movimentados
As investigações começaram em 2019, quando o traficante Elton da Conceição, conhecido como PQD da CDD, foi preso. Desde então, a polícia identificou mais de 4.888 transações financeiras suspeitas, totalizando mais de R$ 21,5 milhões.
O esquema funcionava como uma franquia criminosa: chefes de pontos de venda de drogas pagavam uma mensalidade para usar a marca CV e ter acesso a armas, drogas e suporte logístico. Os valores arrecadados eram usados para comprar armamento, financiar invasões e até pagar propinas a agentes públicos.
Barricadas e bloqueios: o crime desafiando o Estado
Para impedir o avanço policial, traficantes montaram barricadas de ferro e concreto em diversas ruas do complexo. Os agentes tiveram que usar maçaricos para romper as barreiras. Mesmo com as dificuldades, a operação seguiu firme e resultou em diversas apreensões:
- 42 veículos recuperados
- 8 fuzis apreendidos
- 1 submetralhadora
- 7 granadas
- Uma plantação de maconha encontrada na Fazendinha
Além do Complexo do Alemão, a operação se estendeu para bairros como Bangu, Jacarepaguá, Engenho da Rainha, Ramos, Copacabana e Santo Cristo, além dos estados da Bahia e da Paraíba.
Um golpe no luxo dos barões do tráfico
O Comando Vermelho utiliza os recursos da “Caixinha” para bancar uma vida de ostentação para seus chefes. Mansões, carros de luxo e festas regadas a drogas e bebidas são parte do cotidiano dos criminosos.
Porém, a principal função desse fundo financeiro é sustentar a organização criminosa. O dinheiro serve para:
- Comprar armas, munições e drogas
- Financiar invasões e retomadas de territórios
- Pagar pensão a integrantes presos
- Corromper agentes públicos
Movimentação financeira sofisticada
Os criminosos utilizam métodos elaborados para dificultar o rastreamento do dinheiro. Depósitos e saques são feitos de forma fracionada e abaixo de R$ 10 mil para evitar alertas bancários. Também usam “contas de passagem”, onde os valores são rapidamente movimentados e sacados em espécie.
As quebras de sigilo fiscal e bancário autorizadas pela Justiça permitiram que os investigadores descobrissem toda a cadeia de movimentação financeira da facção. Essas análises foram feitas pelo Laboratório de Tecnologia contra Lavagem de Dinheiro (LAB-LD).
Impacto na rotina da comunidade
A operação teve reflexos diretos no cotidiano dos moradores do Complexo do Alemão. Duas clínicas da família — Zilda Arns e Rodrigo Y Aguilar Roig — suspenderam o funcionamento por questões de segurança. Além disso, seis linhas de ônibus que passam pela região precisaram desviar seus itinerários.
Mesmo com o risco constante de confronto, a população do Alemão segue enfrentando o terror imposto pelo crime organizado. Enquanto isso, a polícia continua sua missão de restabelecer a ordem e desarticular a estrutura criminosa que controla a região.
O que vem a seguir?
As autoridades prometem intensificar as investigações e continuar as operações para desmantelar o Comando Vermelho. A população espera que a segurança seja restabelecida e que o Estado mostre sua força contra o crime organizado.
A mensagem é clara: o crime não terá trégua. O golpe na “Caixinha do CV” é um passo importante para enfraquecer o poder financeiro da facção e, assim, abrir caminho para uma nova realidade nas comunidades cariocas.
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