A Ascensão do BDM no Cartão-Postal da Bahia
O Pelourinho, ícone turístico e cultural da Bahia, enfrenta há mais de uma década a dominação da maior organização criminosa do estado, o Bonde do Maluco (BDM). O grupo criminoso tem suas iniciais espalhadas por todo o centro histórico, demonstrando sua força e controle sobre o comércio de drogas na região. A proximidade estratégica com o Porto de Salvador é um dos principais fatores que facilitam essa dominação. Esse porto, além de ser uma via crucial para o transporte de mercadorias legais, serve também como ponto de entrada para armas e drogas.
Wagner Moreira, do IDEAS Assessoria Popular e do Fórum Popular de Segurança Pública da Bahia, explicou como cargas ilegais conseguem entrar pelo porto. “Embora haja uma triagem por amostragem no embarque e desembarque de contêineres, muitas dessas cargas ilegais saem dos navios que estão em fila para atracarem no Porto de Salvador”, afirmou. Essa facilidade logística contribui significativamente para a operação do BDM na região.
Fundada em 2015 no Complexo Penitenciário da Mata Escura, a facção BDM, sob a liderança de Zé de Lessa, rapidamente se expandiu para diversas áreas da capital baiana, incluindo os conjuntos habitacionais do Minha Casa Minha Vida no Subúrbio e em Cajazeiras. Agora, adotando uma nova estratégia de mercado, a organização criminosa se consolidou no Pelourinho, explorando a grande quantidade de casarões abandonados que servem como depósitos de drogas e armas.
A Estratégia de Mercado e a Influência no Turismo
O Pelourinho, com seu grande número de imóveis vazios, se tornou um terreno fértil para o BDM. Em 2012, um estudo do Escritório de Referência do Centro Antigo de Salvador (Ercas) mapeou 1.300 imóveis vazios ou subutilizados na região, facilitando a ocupação pelo crime organizado. “É uma região estratégica para guardar armas e drogas que chegam ou que vão para o Porto de Salvador”, explicou Wagner Moreira.
O especialista em segurança pública, coronel Antônio Jorge, do curso de Direito do Centro Universitário Estácio FIB da Bahia, ressaltou que os casarões abandonados são ideais para operações do BDM. “Os vendedores de droga não ficam com grandes quantidades, mas com o suficiente para vender, pois se forem presos, têm a justificativa que é para consumo próprio”, observou Jorge.
A presença do BDM no Pelourinho não afeta apenas a segurança, mas também a economia local e o turismo. Turistas que visitam o Pelourinho, muitas vezes, procuram não apenas a beleza histórica do local, mas também drogas, o que aumenta a demanda por entorpecentes e fortalece o controle do BDM sobre a área. Esse mercado é impulsionado ainda mais pela proximidade do Pelourinho com bairros de classe média e alta, como Canela, Graça e Corredor da Vitória, criando uma rede de consumo consolidada.
Conflitos e Policiamento: Desafios à Segurança Pública
O Carnaval de Salvador ilustra bem a influência e a violência associada ao tráfico de drogas na região. Em um incidente notório no ano passado, um homem foi morto na Sexta-feira de Carnaval, perto da Ladeira da Montanha, durante a passagem do Bloco Amor e Paixão. A polícia revelou que as armas usadas no crime estavam escondidas em um dos casarões do Circuito Osmar, demonstrando como o BDM utiliza esses imóveis para facilitar suas atividades criminosas, mesmo durante eventos de grande visibilidade e policiamento reforçado.
O principal rival do BDM, o Comando Vermelho (CV), também tem presença nas proximidades, controlando a Gamboa de Baixo. No entanto, o Pelourinho permanece sob domínio exclusivo do BDM, em grande parte devido ao policiamento intenso e à presença de um Batalhão da PM e de uma Delegacia Especializada do Turista (Deltur). “O Pelourinho é uma área com mais policiamento que outras regiões da capital, tem um Batalhão da PM e uma Delegacia Especializada do Turista (Deltur) e muitas câmeras, e isso dificulta a incursão de uma facção rival para tomar o território”, explicou o coronel Antônio Jorge.
As autoridades locais, como a Guarda Civil Municipal de Salvador (GCM), a Polícia Civil (PCBA) e a Polícia Militar (PMBA), têm sido acionadas para tratar dessas questões, mas a complexidade do problema exige uma abordagem coordenada entre diversas instituições. A GCM informou que cabe às polícias Civil e Militar investigar situações desse tipo, enquanto outras instituições ainda não se posicionaram sobre medidas específicas para combater a influência do BDM no Pelourinho.
Em resumo, a presença do BDM no Pelourinho representa um grave desafio para a segurança pública e a economia local. A combinação de localização estratégica, imóveis abandonados e demanda turística por drogas fortalece o controle da facção sobre o centro histórico de Salvador. A resposta efetiva a essa ameaça exigirá uma coordenação intensiva entre as autoridades locais e a implementação de estratégias de longo prazo para reverter o domínio do crime organizado na região.
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