Operação Bolsa Azul: a suposta conspiração de El Salvador para derrubar Maduro

Um vídeo intrigante, um post cifrado e uma conexão com um mercenário reacenderam as especulações sobre uma possível articulação internacional para derrubar o regime de Nicolás Maduro na Venezuela. Batizada de “Operação Bolsa Azul”, a teoria envolve diretamente o presidente de El Salvador, Nayib Bukele, e a líder opositora venezuelana María Corina Machado. Mas qual é a origem dessa história e por que ela está ganhando força?

A mensagem enigmática da bolsa azul

Tudo começou em 9 de janeiro de 2025, quando María Corina Machado, uma das principais vozes da oposição venezuelana, foi interceptada por agentes do regime de Maduro após participar de uma manifestação nos arredores de Caracas. Em um vídeo divulgado nas redes sociais, Machado afirmou que estava bem, mas que havia perdido uma bolsa azul enquanto era perseguida.

“Estou bem, estou segura. Hoje é 9 de janeiro. Saímos de uma concentração maravilhosa. Me perseguiram, caiu minha bolsa… uma bolsinha azul que tinha meus pertences. Caiu na rua. E já estou a salvo. A Venezuela será livre”, disse ela no vídeo.

Horas depois, Nayib Bukele publicou no X (antigo Twitter) uma foto de uma bolsa azul sem qualquer legenda, levantando suspeitas de que a publicação estaria relacionada à fala de Machado. Internautas rapidamente associaram a cor azul ao símbolo dos Capacetes Azuis da ONU e à bandeira de El Salvador, sugerindo que poderia haver um plano para desestabilizar o governo de Maduro.

O papel do mercenário Erik Prince

Outro elemento que alimentou as teorias foi a conexão de Bukele com Erik Prince, um ex-militar norte-americano e fundador da empresa de segurança privada Blackwater. Conhecido por suas operações em zonas de conflito, Prince tem se mostrado interessado na situação venezuelana.

Em 8 de janeiro, Prince postou no X: “Não acredite nas coisas idiotas que um regime moribundo fará para tentar se agarrar ao poder”. Dias antes, ele fez uma provocação ao perguntar se alguém estaria disposto a capturar o procurador-geral venezuelano, Tarek William Saab, em troca de uma recompensa de US$ 100 mil.

Dado o histórico de Prince e seu encontro anterior com Bukele, alguns analistas começaram a especular que uma intervenção coordenada na Venezuela poderia estar em andamento.

A resposta de Maduro e seus aliados

Diosdado Cabello, ministro do Interior da Venezuela, não perdeu tempo em ridicularizar a situação. Durante seu programa de TV estatal, ele zombou da perda da bolsa azul por parte de Machado. Ao som da música “La Cartera”, Cabello abriu uma bolsa azul cheia de remédios e uma nota de dólar, insinuando que a líder opositora precisava de tranquilizantes.

Tarek William Saab, procurador-geral da Venezuela, reforçou a narrativa do regime ao afirmar que María Corina Machado sofria de transtornos de personalidade.

Ainda nesta semana, Maduro anunciou a prisão de sete mercenários, incluindo dois cidadãos americanos, acusados de planejar atos terroristas no país. A declaração alimentou ainda mais as teorias de que há uma conspiração em curso.

Teoria ou realidade?

Embora a chamada “Operação Bolsa Azul” tenha ganhado força nas redes sociais, nenhum governo ou organização internacional confirmou qualquer plano para derrubar Maduro. A posse do líder venezuelano para mais um mandato de seis anos ocorreu sem grandes imprevistos, mas as especulações permanecem vivas.

Na manhã do dia 11 de janeiro, Bukele voltou ao X com um post enigmático: “Paciência”. A mensagem criptográfica levantou mais dúvidas do que respostas.

A geopolítica por trás da teoria

A possível participação de El Salvador em um plano para desestabilizar a Venezuela poderia gerar sérias consequências diplomáticas. Maduro mantém relações estreitas com países como Rússia, China e Irã, enquanto Bukele tem se aproximado dos Estados Unidos.

Caso a teoria se confirme, isso representaria um movimento ousado por parte de Bukele, que busca consolidar sua posição como líder influente na América Latina. Além disso, poderia indicar um novo capítulo na luta pelo poder na Venezuela, que já atravessa uma crise política e humanitária há anos.

Por ora, a Operação Bolsa Azul continua sendo apenas uma teoria. Mas, em tempos de geopolítica instável, até mesmo as teorias mais improváveis merecem atenção.