Na tarde da última segunda-feira (19), um novo testemunho no Supremo Tribunal Federal (STF) trouxe à tona detalhes críticos sobre o assassinato da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, ocorridos em 14 de março de 2018. Otacílio Antônio Dias Júnior, também conhecido como Hulkinho, revelou que Maxwell Simões Corrêa, o Suel, pagou R$ 2,5 mil pelo Cobalt prata utilizado no atentado.
A Escuridão por Trás do Veículo Utilizado no Crime
O depoimento de Hulkinho, um motorista de aplicativo de 41 anos, apresentou novas camadas à trama já complexa do caso Marielle. Hulkinho descreveu como Suel, bombeiro e figura central nas controvérsias recentes, entrou em contato buscando um carro automático – no entanto, o veículo entregue acabou sendo um carro manual clonado. Hulkinho, que atuou como intermediário, revelou que encontrou o veículo através de um contato conhecido como Big Mac, um jovem ligado a atividades criminosas que controlava a venda de carros na região de Gardênia.
A profundidade da rede criminosa foi revelada quando Hulkinho mencionou que o Cobalt já circulava por áreas controladas por milícias na Zona Oeste do Rio de Janeiro, com outra placa, anos antes do ocorrido. Essas áreas, conhecidas por seus vínculos estreitos com atividades ilícitas, são frequentemente palco de conflitos onde a lei parece quase inoperante. A admissão de Hulkinho de que o carro pertencia a um miliciano e que ele não questionou o uso que Suel faria do veículo, sublinha a banalização da violência e da corrupção nesses territórios.
Desdobramentos Judiciais e Implicações Criminais
Maxwell Suel permanece preso desde julho de 2023, junto com Ronnie Lessa, que confessou ser o atirador, e Élcio de Queiroz, o motorista na noite do crime. As delações de Lessa e de Queiroz, homologadas pela Justiça, forneceram detalhes vitais sobre a execução do crime e a logística que o cercou. Os testemunhos revelam um emaranhado de cumplicidade que se estende desde a base até os possíveis mandantes, incluindo Domingos e Chiquinho Brazão, ambos também detidos sob a suspeita de terem orquestrado o assassinato. Outro nome importante, o delegado Rivaldo Barbosa, também figura entre os presos, acusado de ser o mentor intelectual por trás do atentado.
A narração de Hulkinho no STF trouxe eventos e personagens que não haviam sido completamente esclarecidos até então. O fato de Suel ter arrumado as placas e participado da destruição do veículo após o crime, conforme as investigações, coloca-o em um papel incrivelmente comprometedor. Apesar das negações veementes de Suel sobre qualquer envolvimento, as evidências apontam para sua participação ativa no encobrimento do crime.
Um ponto interessante no depoimento foi a menção indireta aos vínculos políticos e sociais que têm sido explorados por analistas e estudiosos. Ele detalhou seus contatos com figuras de renome, incluindo o ex-vereador Cristiano Girão, conhecido líder de milícia na região, embora alegue desconhecimento profundo das operações criminosas de Girão até sua prisão. Isso revela uma teia de relações que pode implicar ainda mais pessoas e reforçar a ideia de que o crime de Marielle Franco foi fruto de uma conspiração intricada e de múltiplas camadas.
A Conexão Interrompida e o Desabafo de Chiquinho Brazão
Outro aspecto intrigante do depoimento foi o colapso da conexão de videoconferência com os presídios federais de Campo Grande, no Mato Grosso do Sul, e Porto Velho, em Rondônia, interrompendo o acesso a testemunhas-chave como o deputado federal Chiquinho Brazão e o major Ronald Paulo de Alves Pereira. A interrupção gerou uma reação imediata de Chiquinho Brazão, que emitiu um desabafo alegando estar isolado e ignorado, um cenário que ele sugeriu ser parte de uma estratégia de negligência.
Essas interferências técnicas levantam questões sobre a transparência e a integridade do processo judicial. Em um caso que já se estende há mais de cinco anos, cada detalhe, cada testemunho e cada palavra proferida pode ser a chave para decifrar uma tragédia que abalou não apenas o Rio de Janeiro, mas todo o país.
A revelação da compra do Cobalt por Suel e seu uso no crime não apenas vincula mais um nó na rede de implicados, mas também enfatiza a necessidade de uma investigação minuciosa e imparcial. A busca pela justiça para Marielle e Anderson continua sendo um marco fundamental para a sociedade brasileira, um lembrete de que a integridade e a segurança pública não podem ser corroídas por forças obscuras e cheias de interesses particulares. Nesta narrativa sombria de conluio e violência, toda a verdade deve vir à luz, para garantir que a memória de Marielle Franco sirva de legado e advertência contra a impunidade.
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