Desafios da Primeira Infância na Maré
Na comunidade da Maré, um conjunto de 16 favelas localizado na zona norte do Rio de Janeiro, a luta pela proteção das crianças em meio à violência armada se intensifica. Um estudo recente, denominado “Primeira infância nas favelas da Maré: acesso a direitos e práticas de cuidado”, revela que 40% das mais de 2 mil famílias entrevistadas afirmam que seus filhos já testemunharam algum tipo de violência. Este cenário alarmante acentuou a urgência de não apenas uma resposta comunitária, mas também de uma demanda por políticas públicas efetivas que protejam as crianças expostas a essas realidades.
De acordo com dados coletados pela organização Redes da Maré, estima-se que, ao longo de uma década, uma criança oriunda dessa comunidade perderá, em média, um ano e meio de aulas devido a operações policiais. Além das interrupções na educação, dias de operações resultam em dificuldades para o acesso a serviços essenciais, como saúde, educação e apoios comunitários. A entrega de uma carta compromisso, elaborada com a participação de representantes das 16 favelas da Maré, visa pressionar candidatos às eleições do Rio de Janeiro a priorizarem este tema em suas plataformas.
Tainá Alvarenga, coordenadora do Eixo Segurança Pública e Acesso à Justiça da Redes da Maré, enfatiza que políticas estruturais voltadas para o desenvolvimento das crianças precisam ser implementadas desde os primeiros anos de vida. “O acesso à educação, ao lazer e à cultura desempenha um papel crucial na formação da subjetividade na vida adulta”, afirmou.
Uma Comunidade em Busca de Transformação
A Maré abriga aproximadamente 122 mil habitantes, dos quais cerca de 15 mil são crianças de até seis anos. A preocupação com a segurança e o futuro das novas gerações é refletida no relato de Vanessa Sant’Anna, mãe de três filhos, que se mudou para escapar da violência. Para ela, o mais importante é que as crianças tenham acesso a oportunidades que vão além da mera proteção física. “As crianças precisam de muito mais do que segurança, elas necessitam de acesso à cultura e incentivos para seu desenvolvimento”, destaca.
Os números são preocupantes: até outubro de 2024, ocorreram 38 operações policiais nas favelas da Maré. Em 2023, 34 operações resultaram em oito mortes e nove ferimentos por arma de fogo, interrompendo aulas para 8.099 crianças e prejudicando serviços de saúde para muitas outras. “Hoje, uma das principais preocupações das mães daqui é que seus filhos vejam o tráfico de drogas como uma perspectiva de vida”, lamenta Vanessa.
A mobilização em torno do 1º Plano pela Primeira Infância da Maré serviu como um catalisador para mostrar a força da comunidade. Foram realizadas pré-conferências, onde os moradores tiveram voz ativa na formulação de propostas nas áreas de cuidados, saúde, educação e assistência social. Essa participação comunitária é vista como fundamental para garantir que as políticas públicas atendam realmente às necessidades locais, permitindo que as crianças expressem suas expectativas e desejos.
“A nossa comunidade, embora marcada pela violência, possui uma riqueza cultural e potencialidades inexploradas”, afirma Andrezza Hubeane Nóbrega Dias, educadora em um Espaço de Desenvolvimento Infantil. Em vez de meramente focar na violência, a educação tem se mostrado uma ferramenta poderosa para a transformação social, com iniciativas que visam criar um ambiente onde crianças possam sonhar e desenvolver seu potencial.
Quer saber tudo
o que está acontecendo?
Receba todas as notícias do Portal de Notícias no seu WhatsApp.
Entre em nosso grupo e fique bem informado.
Deixe o Seu Comentário