Um notório hacker, que figurava entre os criminosos mais procurados da Europa, foi preso após chantagear 33 mil pessoas, ameaçando divulgar online as anotações de suas sessões de terapia. Julius Kivimäki, cujo pseudônimo “Zeekill” era bem conhecido no submundo cibernético, foi finalmente capturado, encerrando uma onda de crimes que se estendeu por 11 anos e começou quando ele tinha apenas 13 anos. Aqui, exploramos a jornada do jovem hacker que ganhou fama em uma gangue de anarquistas cibernéticos adolescentes.
O início do caos: ascensão de Zeekill
O nome Julius Kivimäki tornou-se sinônimo de hacking e chantagem na Europa. Sua jornada começou na adolescência, quando ele se destacou em redes de gangues como Lizard Squad e Hack the Planet. Ao lado de outros adolescentes, Kivimäki ganhou notoriedade ao hackear, extorquir e se gabar de seus feitos criminosos.
Mesmo antes de atingir a maioridade, Zeekill já havia sido responsável por dezenas de ataques cibernéticos em larga escala. Em 2014, aos 17 anos, foi preso e condenado por mais de 50.700 crimes relacionados a invasão de computadores. No entanto, a sentença de dois anos de prisão foi suspensa condicionalmente, e ele saiu livre, despertando críticas de especialistas em segurança cibernética sobre a brandura do sistema judicial finlandês.
A liberdade permitiu que ele perpetrasse um dos ataques mais ousados da história. Em 2014, junto com o Lizard Squad, Zeekill derrubou as duas maiores plataformas de jogos online – a Playstation Network e o Xbox Live – na véspera e no dia de Natal. Milhões de jogadores ficaram impossibilitados de baixar jogos ou jogar online devido ao ataque de negação de serviço. O caos foi tal que atraiu a atenção da imprensa mundial e rendeu a ele uma infame reputação. Sua falta de remorso foi evidente quando ele deu uma entrevista ao canal Sky News, orgulhando-se dos ataques.
Ataque à Vastaamo: chantagem em massa e destruição de vidas
A reputação de Kivimäki como hacker infame parecia ter ficado para trás por alguns anos, mas ele retornou com um dos piores ataques cibernéticos da Finlândia. Ele violou os servidores da Vastaamo, uma rede finlandesa de clínicas de psicoterapia, e roubou registros de 33 mil pacientes. As anotações das sessões de terapia incluíam os segredos mais íntimos de muitos, desde casos extraconjugais a confissões de crimes.
Ele se aproveitou dessas informações para extorquir milhares de pessoas. Usando um pseudônimo online “ransom_man”, ele enviou e-mails ameaçadores às vítimas, exigindo 200 euros (cerca de R$ 1.090) dentro de 24 horas. Caso contrário, as anotações seriam publicadas online. O valor aumentaria para 500 euros (R$ 2,7 mil) se as vítimas não cumprissem o prazo.
A advogada Jenni Raiskio representa 2.600 vítimas no caso e testemunhou sobre o impacto devastador da chantagem. Algumas vítimas tiraram a própria vida após terem seus registros publicados na dark web. “Tivemos um momento de silêncio no tribunal para as vítimas”, relata Raiskio. A escala do ataque foi tão grande que exigiu uma das maiores investigações policiais da história finlandesa.
A captura de um criminoso cibernético
Depois de quase dois anos de investigação, a polícia finlandesa emitiu um alerta vermelho na Interpol para Kivimäki. Ele se tornou um dos criminosos mais procurados da Europa. Foi encontrado por acaso em Paris, quando a polícia respondeu a uma chamada falsa sobre violência doméstica e descobriu que ele vivia com documentos de identidade falsos.
Rapidamente extraditado para a Finlândia, Kivimäki enfrentou um julgamento que se tornou notícia em todo o país. O detetive Marko Leponen liderou a investigação de três anos, que envolveu mais de 200 policiais. “Foi o maior caso da minha carreira”, diz Leponen. “Precisamos analisar muitos depoimentos e histórias de vítimas.”
As evidências contra Kivimäki eram esmagadoras. Vincularam sua conta bancária ao servidor usado para baixar os dados roubados, e técnicas forenses permitiram identificar sua impressão digital em uma foto anônima. Ele foi condenado por mais de 30 mil crimes – um para cada vítima.
Uma justiça tardia, mas necessária
Kivimäki foi condenado a seis anos e três meses de prisão por violação de dados, tentativa de chantagem e disseminação de informações privadas. No entanto, devido ao tempo já cumprido e ao sistema judicial finlandês, é provável que ele cumpra apenas metade da pena.
Para as vítimas, a punição não foi suficiente. “33 mil pessoas foram afetadas, e algumas até perderam suas vidas”, diz Tiina Parikka, uma das vítimas de Kivimäki. “Isso não é justiça.”
Apesar disso, o caso destacou a necessidade de mudança na legislação finlandesa para tratar de ataques cibernéticos em massa. Raiskio espera que a Vastaamo sirva como um ponto de inflexão para que futuras vítimas recebam proteção adequada.
Enquanto Kivimäki aguarda atrás das grades, há pedidos para mudar a lei e fornecer indenizações às vítimas. E, mesmo na prisão, o jovem hacker continua sendo um lembrete perturbador de como os perigos do mundo cibernético podem impactar profundamente a vida real.
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